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ENTREVISTA/Thiago Gomes da Trindade, presidente da SBMFC

Equipes multidisciplinares de saúde que contam com a presença do profissional farmacêutico conseguem melhores resultados em tratamentos clínicos. Na visão do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Thiago Gomes da Trindade, o papel assistencial do farmacêutico clínico no cuidado com pessoas com doenças crônicas, por exemplo, gera um impacto muito positivo para a população. A SBFMC é a entidade científica que representa a Medicina de Família, reunindo 6 mil médicos de família associados em todo o país. Cerca de 40 mil médicos atuam atualmente na atenção primária brasileira, nas equipes da Estratégia Saúde da Família.

De acordo com Trindade, existem várias formas de o farmacêutico contribuir com tratamentos feitos por equipes multidisciplinares. “Tanto no que já é feito por tradição, que é a gestão da assistência farmacêutica, como no cuidado com os pacientes, especialmente aquelas com multimorbidades, que geralmente precisam de vários medicamentos combinados. O farmacêutico pode contribuir muito com a melhoria da qualidade de vida desses pacientes e na efetividade do tratamento”.

 

Para ele, o manejo conjunto do médico, enfermeiro e farmacêutico, no processo de prescrição e orientação sobre medicamentos, significa um salto de qualidade em tratamentos clínicos. “Esses três profissionais podem se potencializar sempre com a finalidade de ajudar aos pacientes para que atinjam os melhores resultados”.

 

Trindade aponta uma falha na gestão dessas equipes e no processo de formação dos profissionais. “Na maioria das profissões da área da saúde, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, são formados isoladamente. Então quando chegam ao mercado de trabalho, na atenção primária, os profissionais não conseguem trabalhar em conjunto. ”

 

A solução, segundo o presidente, depende de uma ampla mudança cultural. “Hoje as experiências que eu vejo que funcionam mais são em locais em que existem as residências multiprofissionais. Porque colocam-se esses egressos da graduação para fazer uma residência já no modelo interdisciplinar. Então, dali saem profissionais diferenciados, que naturalmente se buscam no serviço para trabalhar em conjunto”, explica.

 

E sobre o trabalho em equipe, não há dúvidas, quem sai ganhando é sempre o paciente. É isso o que a SBMFC defende. “Precisamos construir um sistema de saúde, um modelo de cuidado para a atenção primária centrado no paciente. O que naturalmente a gente fez, ao longo de muitos anos, foi ter um sistema de saúde centrado no profissional. E, com isso, o usuário saia perdendo”, afirma Trindade.

 

O farmacêutico na medicina da família

 

Existe hoje uma compreensão da importância do farmacêutico na medicina da família, apesar de algumas regiões brasileiras não estarem tão amadurecidas para esse trabalho integrado. As equipes de saúde da família, junto com os núcleos de apoio a saúde da família - que é onde se inserem os farmacêuticos - realizam trabalhos integrados que são referências para o cuidado interdisciplinar.

 

 

De acordo com Trindade, alguns municípios já têm experiências muito avançadas, como Curitiba. Naquela capital, foi implantado em abril de 2014, com incentivo do Programa Nacional de Qualificação da Assistência Farmacêutica no âmbito do SUS (QualifarSUS), o Projeto de Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica.  Por meio da experiência, que é piloto para o país, o Ministério da Saúde, oferece um atendimento diferenciado a pacientes atendidos na rede pública em uso de mais de que cinco medicamentos ao dia. Eles têm acompanhamento e se consultam também com os farmacêuticos dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).

 

“Isso não é uma realidade ainda de Brasil. Embora a gente já tenha o NASF há alguns anos, nem todos os municípios aderiram aos NASFs, e entre os municípios que os implantaram, há aqueles que não estão trabalhando de uma maneira tão integrada”, explica. O que falta, para Trindade, é incentivo à prática multidisciplinar. “As pessoas têm que sentar juntas, saber das competências de cada um, construir as tarefas e o processo de trabalho. Isso depende de um estímulo por parte da gestão, seja municipal, estadual ou federal, para fazer com que essas equipes trabalhem em conjunto”, finaliza.

 

Fonte: Comunicação do CFF

Inserida em 21/01/2016

 

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