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ENTREVISTA – Luciano Henrique Pinto, UNIVILLE

 

Mestre em Saúde e Meio Ambiente pela Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), graduado em Farmácia pela Universidade Federal de Ouro Preto (MG) - UFOP no ano de 2003, especialista em Farmacologia pela Universidade Federal de Lavras (MG) – UFLA desde 2005, Luciano Henrique Pinto atuou em um dos programas de residência multiprofissional em saúde pioneiros no País: o Programa de Residência Integrada em Saúde da Família da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Apesar de estar desligado da residência – hoje atua como professor do curso de Farmácia da UNIVILLE, onde também cursa doutorado em Saúde e Meio Ambiente – Luciano Henrique Pinto destaca, os bons resultados obtidos a partir formação em serviço e clama por mais reconhecimento para o profissional que cursa essa modalidade de especialização. Confira:

 

 

Quando e que forma o senhor atuou no programa de residência em saúde da famíla?

Em 2006, fui convidado a participar da equipe de preceptores do Programa de Residência Integrada em Saúde da Família da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Eles estavam formando a sua segunda turma de residentes. Somente um ano depois seria publicada a Lei n° 11.129 de 2005, que criou a residência multidisciplinar. Além de ser um dos primeiros programas a apostar na interdisciplinaridade para a capacitação dos profissionais em saúde, o programa também foi um dos primeiros a incluir farmacêuticos nas equipes. Atuei na residência até julho de 2008, quando me transferi para a UNIVILLE para lecionar no curso de Farmácia.

 

O que motivou a inserção dos farmacêuticos na residência em saúde pela UFSC?

A residência multiprofissional em saúde pauta-se pela interdisciplinaridade. Neste sentido, a atuação do farmacêutico é fundamental à equipe, para primeiramente viabilizar a organização da assistência farmacêutica e o acesso aos medicamentos, bem como promover o uso racional dos medicamentos. Mas no cuidado ao paciente, no serviço clínico, é que o farmacêutico mostrava também sua importância. Estes foram alguns dos motivos que estimularam a UFSC a contar com farmacêuticos em seu programa de residência multiprofissional em saúde. 

 

Que resultados práticos foram observados a partir da inserção dos farmacêuticos nas equipes em formação?

Verificávamos, com grande frequência, a falta de adesão dos pacientes ao tratamento por diversos motivos, e a manifestação de reações adversas, especialmente entre os idosos, que tinham muitas dificuldades em absorver as orientações sobre a posologia, finalidade, melhor local para guardar medicamentos entre outras informações. Os casos diminuíram consideravelmente, não somente em decorrência da atuação dos farmacêuticos na orientação aos pacientes como no auxílio aos demais profissionais da equipe, sanando suas dúvidas sobre medicamentos, como uso durante a gravidez e lactação.

 

Em sua opinião, por que os farmacêuticos ainda são preteridos em alguns projetos de programas de residência multiprofissional? Há casos de programas em saúde mental, somente para citar um exemplo, que ainda não contam com farmacêuticos.

Nos últimos dez anos, avançamos muito e a importância do trabalho do farmacêutico ganhou visibilidade. Mas trata-se de um processo de longo prazo. É necessário que o farmacêutico se apresente, que ele procure demonstrar à sociedade, aos gestores públicos e privados, que lacunas ele pode preencher em seu exercício profissional. No campo da saúde mental, conheço iniciativas em que os Farmacêuticos trabalham com as famílias dos doentes, uma vez que as informações repassadas aos próprios pacientes não são totalmente compreendidas por eles devido ao seu estado clínico.

 

De que forma isso é possível?

Acredito que os trabalhos produzidos pelos profissionais envolvidos na própria residência multiprofissional em saúde, contribuirão para dar maior visibilidade ao farmacêutico.  Mas é preciso que essas experiências sejam sistematizadas e divulgadas, principalmente em meios acadêmicos, apontando os desfechos positivos com evidências, e não se pautando no “senso comum” de que podemos fazer “algo”.

 

Para os profissionais, quais são os ganhos com a residência multiprofissional em saúde?

O processo de formação por meio do trabalho (por causa de sua interdisciplinaridade e, também, pelo contato com o paciente) permite, ao residente, adquirir um conhecimento que nem sempre é possível obter durante o curso de graduação. Um exemplo – no caso da residência em saúde da família – são as visitas domiciliares, que permitem, por exemplo, o cuidado ao paciente acamado, em um processo que envolve a interlocução com outros profissionais, com os cuidadores e a família do doente. Além disso, a residência em saúde oportuniza uma maior compreensão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o trabalho dos demais profissionais que compõem a equipe. Ela ainda coloca o profissional em contato com o controle social. Essa interação permite que ele atue na conscientização destes atores sobre a importância de buscar o acesso à saúde e à qualidade de vida e não, apenas, o acesso aos medicamentos.   

 

Com o programa de residência multiprofissional em saúde da UFSC vocês obtiveram resultados neste sentido, de uma maior conscientização sobre o uso de medicamentos?

No processo de formação em trabalho, acabamos por descobrir novas formas de atuação do farmacêutico. Na UFSC, os residentes conseguiram transformar o cuidado aos pacientes portadores de anemia, que eram tratados basicamente com sulfato ferroso, graças a atuação conjunta entre farmacêuticos e nutricionistas. Com isso outro componente importante no tratamento passou a receber a atenção devida: a alimentação destes pacientes. A atuação dos farmacêuticos em conjunto com os psicólogos também foi determinante para melhorar a assistência à saúde dispensada aos pacientes com depressão. Em outras situações, os tratamentos passaram a focar, também, em cuidados complementares, como dieta, exercícios físicos e indo além da somente intervenção medicamentosa. Foi possível introduzir nos serviços de saúde o conceito da desmedicamentalização da saúde, no qual – com ajuda de outros profissionais – foi possível até mesmo reduzir a quantidade de medicamentos utilizados pelos pacientes. 

 

Há algo que o senhor queira acrescentar e que não foi perguntado?

Os editais dos concursos deveriam contemplar mais a residência em saúde em suas exigências, valorizando quem passou dois anos na formação em serviço. Com a ampla experiência e o conhecimento que adquire, esse profissional não pode ser equiparado a quem tem apenas graduação, como acontece. Isso precisa mudar.

 

 

Fonte: Assessoria de Comunicação do CFF

Inserida em 10 de fevereiro de 2015

 

 

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