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Entrevista - Josiane Costa / Farmacêutica 

Ela atuou como preceptora de residentes do Hospital Risoleta Tolentino Neves (HRTN), em Belo Horizonte (MG), e nos fala sobre o trabalho com equipes multiprofissionais

A farmacêutica Josiane Costa formou-se pela Universitária da Universidade Federal de Minas                                                                                                       Gerais (UFMG) e fez mestrado em Saúde e Enfermagem na mesma universidade.

Doutoranda do Programa de Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Faculdade de                                                                                                               Farmácia da UFMG, ela atuou como preceptora de residentes do Hospital Risoleta Tolentino                                                                                                       Neves (HRTN), em Belo Horizonte (MG), e nos conta como este trabalho com equipes                                                                                                                   multiprofissionais lhe rendeu um extenso amadurecimento pessoal, por conviver com                                                                                                                   profissionais em formação, de diferentes áreas. “Essa atividade me possibilitou aprimorar e                                                                                                           implementar novos serviços clínicos no hospital, e publicar trabalhos científicos com os                                                                                                                 resultados, o que contribuiu com a minha carreira acadêmica”, explica Josiane.

 

1 - Após a conclusão da sua graduação em Farmácia, quais foram as suas experiências                                                                                                           profissionais e acadêmicas?

 

Na minha época o curso não possuía a formação generalista, colávamos grau no oitavo                                                                                                                 período e permanecíamos no curso para a conclusão da habilitação. Dessa forma, no último                                                                                                         ano de curso, após colar grau como farmacêutica, eu desenvolvi atividades relacionadas à                                                                                                             Farmácia Clínica na Farmácia Universitária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).                                                                                                         Na Farmácia Universitária eu possuía um contrato de farmacêutica bolsista, que me exigia                                                                                                             uma carga horária de 8 horas semanais. Dessa forma, eu conseguia conciliar essa atividade                                                                                                           com um emprego de farmacêutica em uma farmácia, e ainda cursava as disciplinas da                                                                                                                   habilitação em Análises Clínicas e Toxicológicas. 

Posteriormente, eu trabalhei como farmacêutica na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte                                                                                                           (MG), onde desenvolvi atividades administrativas e clínicas, e no Hospital Risoleta Tolentino                                                                                                           Neves (HRTN), onde trabalhei por 10 anos.

Já em relação às experiências acadêmicas, cursei a Especialização em Gestão, Avaliação e                                                                                                               Elaboração de Projetos Sociais na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG,                                                                                                                 mestrado em Saúde e Enfermagem na UFMG, e atualmente sou doutoranda do Programa de                                                                                                       Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da UFMG.

 

2 - Como surgiu a oportunidade de atuar no programa de residência multiprofissional em Saúde do Idoso do HRTN, de Belo Horizonte?

 

A minha inserção no programa ocorreu no ano de 2009. Eu exercia o cargo de coordenadora da Farmácia do HRTN, quando fui convocada para uma reunião com a diretoria e informada da implantação do programa de residência multiprofissional no Hospital das Clínicas, em parceria com a UFMG, e da negociação do HRTN com o campo de estágio. Me lembro que todos os profissionais receberam a notícia com grande entusiasmo, e como eu possuía experiência clínica prévia, fiquei responsável pela preceptoria dos farmacêuticos residentes que seriam inseridos no programa.

 

3 - Para você, como farmacêutica, o que essa experiência trouxe de enriquecimento profissional e que resultados/oportunidades podem ser destacados?

 

Na verdade, a residência me possibilitou a realização de um sonho: como conciliar as atividades administrativas e clínicas era algo bem difícil, no ano de 2012 ocorreu uma reestruturação da farmácia, e eu fiquei responsável exclusivamente pela preceptoria dos residentes. Além dessa satisfação, em trabalhar exclusivamente com algo que eu gostava muito, essa atividade me possibilitou aprimorar e implementar novos serviços clínicos no hospital, e publicar trabalhos científicos com os resultados do trabalho desenvolvido, o que contribuiu com a minha carreira acadêmica. Por meio desses resultados fomos agraciados em dois momentos diferentes pelo Prêmio Uso Racional de Medicamentos, nos anos de 2010 e 2013, e em 2016 pelo Prêmio Jayme Torres, do Conselho Federal de Farmácia (CFF). Também ressalto que a preceptoria me trouxe um extenso amadurecimento pessoal, por ter que dividir cem por cento da minha carga horária com profissionais em formação.

 

3 - Como eram compostas as equipes multiprofissionais?

 

No HRTN trabalhávamos com cinco equipes multiprofissionais, sendo elas a equipe de Atendimento ao Idoso com Fratura de Fêmur; Cuidados Paliativos; Acidente Vascular Cerebral (AVC); Idoso Frágil; e Equipe Vascular. O intuito era priorizar o atendimento multiprofissional aos idosos com maiores riscos de apresentarem complicações durante a internação.

 

4 - Qual era o papel do farmacêutico nessas equipes?

 

O papel do farmacêutico era acompanhar os pacientes dessas equipes por meio da análise integral da farmacoterapia, considerando a indicação, efetividade e segurança dos medicamentos; realizar intervenções farmacêuticas, e enfim, se responsabilizar pela farmacoterapia dos pacientes acompanhados até o momento da alta. Para isso, realizávamos entrevistas individuais com os pacientes à beira dos leitos, assim como acompanhamentos diários, e registro das evoluções clínicas dos pacientes e das intervenções farmacêuticas em prontuário eletrônico. Também prestávamos orientação aos pacientes na alta hospitalar, elaboração e envio do documento de acompanhamento para a Atenção Primária no momento da alta, realização de contato telefônico com os pacientes e cuidadores por volta de uma semana após a alta, com o intuito de garantir a continuidade do tratamento. Todos os casos eram discutidos com a equipe nas reuniões multiprofissionais que ocorriam semanalmente.

 

5 - Que diferencial o farmacêutico agrega a uma equipe de residência multiprofissional?

 

Nesses últimos anos produzimos vários dados sobre o serviço que indicam uma maior segurança para o paciente acompanhado pelos farmacêuticos clínicos. Para mim está clara a enorme contribuição que o farmacêutico traz para a segurança do paciente, e para a efetividade da farmacoterapia. Isso ocorre por meio da realização de ajustes de doses de medicamentos conforme a função renal dos pacientes, identificação de interações medicamentosas significativas, identificação de prescrições desnecessárias de medicamentos, dentre outros. Desse modo, entende-se que um paciente acompanhado por um farmacêutico clínico, apresenta, por exemplo, menor risco de apresentar problemas de saúde relacionados ao uso de medicamentos desnecessários, ou à falta de uso de algum medicamento que seja necessário.

Também percebemos que assim como o farmacêutico recebe novos conhecimentos sobre o cuidado no processo de convivência com outros profissionais, ele também fornece muitos conhecimentos sobre medicamentos para toda a equipe.

 

6 - Para o farmacêutico, o que a participação em uma residência multiprofissional traz de benefícios a sua carreira?

 

Vejo a convivência multiprofissional como algo fascinante. Posso dizer, que no meu caso, que quando comecei a participar desse processo, tinha cerca de seis anos de experiência em práticas clínicas, e que o convívio com outros profissionais me trouxe novas possibilidades de atuação, além de novos conhecimentos. Hoje me sinto uma profissional mais preparada para oferecer cuidado aos idosos, e tive um aprimoramento da visão gerontológica. O convívio com os residentes e demais profissionais é algo muito dinâmico. Cada dia de trabalho é um desafio, uma grande escola. E o mais interessante é que a articulação multiprofissional surge com a identificação das necessidades de cada paciente, com a vontade de fazer algo melhor pelas pessoas, com a vontade de contribuir a partir do conhecimento e das potencialidades de cada profissão. 

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